domingo, 25 de agosto de 2013

Eu Wolverine


Eu, Wolverine. Nessa HQ, Wolverine viaja ao Oriente em busca do amor, mas encontra apenas fúria à sua espera! Humilhado em combate perante Mariko Yashida, Logan descarrega sua ira no Tentáculo e sua paixão na voluntariosa Yukio! Enquanto sua fera interior e o homem que ele deseja ser travam uma batalha em sua alma, Wolverine deve escolher qual dos dois o ajudará a derrotar seus inimigos e reclamar o amor da mulher que ama.
Muitos não gostam da história, afinal, mostra um lado mais romântico do mutante canadense. A maioria (incluindo eu) prefere ele na versão selvagem, o baixinho invocado. Convenhamos, é sempre muito estranho ver o Wolverine bancando o Romeu (ainda mais em triângulo amoroso). A primeira parte é a mais interessante, até porque mostra o baixinho selvagem, numa briga contra um urso e depois em confusão em um bar. No geral, a HQ é bem “feijão com arroz”, não verá nada demais (até mesmo para a época).

Desenhos são bons tecnicamente falando, com boas composições, onde as lutas ficaram bem apresentadas e de fácil entendimento. Ênfase à ultima luta do Wolverine contra o Samurai de Prata, com fundo vermelho, detalhando mais os movimentos e quadros retangulares, o que pode dar um “ar mais cinematográfico” a luta, ajudando na imersão. Estilo adotado em grande parte da HQ, dando uma narrativa visual simples e eficiente. Não é uma das principais obras para conhecer o baixinho, mas fornece uma boa leitura e divertimento garantido.

Por: Felipe Utsch

terça-feira, 6 de agosto de 2013

A modernidade constitui um espaço fértil para a produção, circulação e recepção da arte sequencial tendo em vista a perda da capacidade simbólica dos indivíduos e a ascensão dos textos curtos?

A modernidade, a grosso modo, seria a inauguração de um novo paradigma, o qual estaria em oposição ao paradigma medieval. À modernidade seria atribuída a Revolução Industrial e o desenvolvimento do Capitalismo. A partir desses momentos históricos poderíamos imediatamente avançar para a sociedade capitalista tal qual a conhecemos: o centro e o interior ou o centro e o campo... Detemo-nos no centro: lugar dos shoppings centers, das escolas, dos supermercados, dos outdoors, das vitrines, dos bancos. Resumindo: o lugar das imagens e das aparências. Aqui já faço um primeiro parênteses: enquanto no campo seria exigido um enorme labor para se tomar leite, no supermercado a caixinha de leite – com a ilustração de uma vaquinha em preto e branco – estaria em alguma pilha, monte, no corredor. Insisto: as imagens, na modernidade, estariam tomando o lugar da “coisa” e não somente isso todas as coisas precisariam ter, na modernidade, uma imagem correspondente para existirem. Quando não existe distância entre imagem e “coisa” se perde a própria distância entre real e virtual. Aqui faço um segundo parênteses: lembremo-nos das redes sociais. O hiato da imagem e do real seria o lugar ocupado pelo simbólico, pelo imaginário. Se se tem a imagem do real para quê o símbolo? Porém, existe uma imagem capaz de captar todo o real ou ser o real? Até mesmo em uma fotografia teríamos o enquadramento, a perspectiva, ou seja, o fragmento. Parece ser uma pretensão da modernidade a captura de toda a realidade, de toda a verdade, de reduzi-la aos sentidos para entendê-la, e com isso a dimensão do simbólico – lugar do ininteligível, daquilo que escapa a lógica – seria repudiada como “não verdadeira”, “mentira”. Não fica difícil, logo, prever o que acontece: as imagens, na modernidade, se tornariam sinônimo de objetividade, clareza e certeza. Também seriam repudiados textos longos, sintaxes cumpridas porque estes não seriam tão claros ou objetivos: no Japão, por exemplo, os breves romances de celulares são atualmente os mais lidos. A graphic novel Memórias Póstumas de Brás Cubas - concebida a partir de sequência de imagens e fragmentos de frases do original - seria outro exemplo de gênero moderno consoante à objetividade e clareza desse paradigma.
Em Memórias Póstumas de Brás Cubas - obra realista cujos traços modernos transgrediriam o romantismo, sobretudo, pelo caráter de “menipéia” - percebemos um narrador-deus - correspondente à imagem na graphic novel – todavia, sem este ser onisciente. A divindade desse narrador estaria no estilo narrativo de cima que tudo observa e comenta, sem escrúpulos. A condição de “espírito” de “defunto-autor” também seria análoga ao Deus cristão “morto-vivo”. Além disso, Memórias Póstumas se constituiria uma obra tão realista, portanto moderna, quanto filosófica no que tange o questionamento acerca das imagens. Nesse interim, seria preciso lembrar as mudanças que ocorriam na capital Rio de Janeiro devido os laços da colônia com Portugal: o litoral, sobretudo o Rio, se modernizava. A reflexão do autor ainda é atual: o que é o homem sem as imagens que ele faz de si para si e para os outros e a imagem que ele faz dos outros para si? O homem sem imagem alguma seria um defunto? A imagem ao mesmo tempo combatida seria valorizada em uma relação semelhante ao que acontece com o símbolo: amado e odiado. O símbolo amado por ser uma “ponte” e odiado por ser uma “ponte” e não a “coisa” e a imagem amada por tentar ser a “coisa”, tentativa de alguma certeza, e odiada por se tratar de tentativa. Ainda é cedo para dizer o quanto somos uma cultura da imagem, mas talvez não seja cedo para dizer que somos cada vez menos uma cultura do símbolo, o que isso nos torna? Espero que não nos torne defuntos. Com essa breve elucubração, encerro com a justificativa por ter acordado tal tema: a arte sequencial encontrou terreno fértil na modernidade, talvez um produto da modernidade, e nos diga muito do que somos atualmente. Ler quadrinhos, se aproximar da arte sequencial, não pode ser visto de forma preconceituosa sob pena de estar negando a própria conjuntura da época moderna. 


Por: Paula Santos