Publicado em 1881, o livro aborda as experiências de um filho abastado da elite brasileira do século XIX, Brás Cubas. Começa pela sua morte, descreve a cena do enterro, dos delírios antes de morrer, até retornar a sua infância, quando a narrativa segue de forma mais ou menos linear – interrompida apenas por comentários digressivos do narrador. A obra já teve três versões cinematográficas, a terceira, produzida em 2001, dirigida por André Klotzel, com Reginaldo Faria atuando como Brás Cubas após os 60 anos até ser defunto e Petrônio Gontijo sendo Brás Cubas na sua juventude. Em Agosto de 2010 a Coleção Grandes Clássicos em Graphic Novel traz adaptações de obras literárias para os quadrinhos. Entre elas, Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis, por João Batista Melado e Wellington Srbek.
Ambas as
obras foram bem fieis, principalmente o filme, mesmo que com leves alterações.
Na HQ, acontece de forma mais corrida, enquanto que o filme mostra todas as
partes do livro praticamente.
No livro, a
narração é feita em primeira pessoa e postumamente, ou seja, o narrador se auto-intitula
um defunto-autor – um morto que resolveu escrever suas memórias. Assim, temos
toda uma vida contada por alguém que não pertence mais ao mundo terrestre. Com esse
procedimento, o narrador consegue ficar além de nosso julgamento terreno e,
desse modo, pode contar as memórias da forma como melhor lhe convém. Com a
narração em primeira pessoa, a história é contada partindo de um relato do
narrador-observador e protagonista, que conduz o leitor tendo em vista sua
visão de mundo, seus sentimentos e o que pensa da vida, contendo reflexões e
hora filosofando. Dessa maneira, as memórias de Brás Cubas nos permitirão ter acesso aos bastidores da
sociedade carioca do século XIX. Ambas representadas muito bem nas duas
adaptações, na HQ como um homem que fica voando de camisola em um espaço/tempo,
enquanto que no filme, parece um fantasma. As vezes até interferindo com os
acontecimentos do filme, o que consegue fazer uns jogos interessantes, como a
versão jovem de Brás atacar Lobo Neves, representando sua vontade, mas logo em
seguida, a versão fantasma aparecendo e parando a situação, e até mesmo congelando
a cena. Lembrando que são adaptações, alterações tem que ocorrer. No livro é
como se Brás estivesse te contando os acontecimentos, a partir do ponto de
vista dele, não havendo muitos diálogos (quase nada), como uma narrativa em
off. E o filme se utiliza disso. Machado de Assis, está conversando com os
leitores, na HQ também e no filme, com os telespectadores.
É legal ver
cenas citadas rapidamente no livro, sendo mostrada aos detalhes no filme. E com
ótimas interpretações de Reginaldo
Faria e Petrônio Gontijo, o que é importante, porque
Brás é meio antipático no início, e os atores são responsáveis por estabelecer
um carisma a personagem.
Alterações
são necessárias, algumas não fazem diferença, mas outras fazem. Como por
exemplo, a relação de Brás com a família. No livro demonstra que o pai é um
tanto negligente com a educação de seu filho, nunca o repreendendo e mesmo
quando o faz, o faz de forma fraca. Na HQ isso é mantido, mas no filme, é pouco
explorado, as vezes até parece que possui uma educação rígida por parte do pai,
mas que ainda assim permanece como um garoto travesso. No encontro com Quincas
Borbas, no livro pareceu que Brás se preocupava com o amigo, no filme Brás
demonstrava um pouco de antipatia por Quincas, já na HQ, ficou idêntico, além que
só de bater o olho, assim que você vira a página, pernebe que aquele é Quincas
Borbas. Quando Quincas enlouquece, é perceptível, tanto no traço da HQ, quanto
na vestimenta do ator no filme.
O
capítulo da “Conversa entre Adão e Eva”, ficaram sensacionais, tanto na HQ
quanto no filme. Incrível a solução dada no filme. Infelizmente o capítulo em
que Brás fala sobre sua carreira política, que no livro foi sensacional, não acontece
em suas adaptações. Mas tudo bem, afinal Brás nos chama de burro logo em seguida,
porque tem que nos explicar tudo. Mas está certo, ainda hoje, as pessoas gostam
de tudo mastigado, ao invés de ter que refletir e pensar.
Ambas
as adaptações ficaram boas. O filme ficou muito parecido, já a HQ, ficou fiel,
mas muito do que está no livro é cortado. Como a relação entre Lobo Neves e
Brás, explicando como Brás era sortudo, por mesmo estando traindo Lobo com sua
esposa, ainda conseguiu por um tempo a simpatia do mesmo.
Ainda
assim a narrativa da HQ está fluida mesmo com os cortes, com ótimos desenhos
que as vezes lembra um pouco de Portinari ou algumas obras modernistas, o
que cai muito bem à obra e um bom emprego das cores.
E
fecho com a frase do capítulo de negativas de Brás Cubas: “Não tive filho, não
transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”
Escrito por Felipe Utsch
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