Maus: A
Survivor's Tale é um romance gráfico produzido
pelo estadunidense Art Spiegelman que narra a
luta de seu pai, um judeu polonês, para sobreviver ao Holocausto.
Os desenhos carecem de detalhes, muitas vezes
parecendo croquis, e feito as pressas, no entanto os quadros são muito bem
elaborados e composição bem feita. Pois embora os desenhos parecem mais com emaranhados
de hachuras, alguns quadros são ricos em detalhes, muitas vezes utilizando de
soluções simples, mas outras possuem maior aprofundamento de perspectiva. E mesmo
com traços bem simples, é extremamente eficaz, pois poderia facilmente ficar
confusa, mas é fácil de se entender. Na parte em que Art Spielgman retrata um
antigo quadrinho feito por ele, podemos ver um melhor acabamento nos desenhos,
tendo uns aspectos mais psicodélicos.
O primor da HQ é a história, mostrando como era a
vida de um judeu durante a 2ª guerra. Vemos o quão baixo pode se rebaixar um
ser humano quando está morrendo de fome, ou por medo. Determinadas partes são
pesadas, não pelo desenho, mas pelo desenvolvimento da narrativa, como uma
parte que fala como os nazistas tratavam das crianças que não paravam de chorar
nos campos de concentração. Os personagens são muito bem trabalhados, chega a dar um sentimento de tristeza, quando
aparece a foto de um dos personagens no meio do livro, e você sabe o que vai
acontecer com ele. Temos o pai de Art, o típico judeu avarento, que pega
saquinhos de sal em restaurantes para economizar dinheiro, embora clichê, e
demonstrar ser uma pessoa difícil de se conviver, é tratado de forma que
criamos simpatia pelo personagem, e passamos a compreende-lo, a medida que o
próprio Art começa a compreender melhor seu pai.
O livro se utiliza muito da metalinguagem, onde o
autor conversa consigo mesmo sobre suas inseguranças ao escrever a Graphic
Novel. Em determinado momento, ele mostra uma conversa com sua madrasta sobre
qual animal utilizaria para retratar os franceses, e mais pra frente
descobrimos qual ele utilizou. Em um outro, ele pensa em como retratar o seu
pai, de forma não muito clichê. Mas o melhor é quando mostra sua reação diante
das perguntas dos repórteres em relação a sua HQ, onde através do tratamento da
imagem, conseguimos compreender os sentimentos do autor melhor do que qualquer
palavra que pudesse vim a ser usada.
Spiegelman retrata diferentes grupos
étnicos através de
várias espécies de animais: Os judeus são os ratos (em alemão: maus), os alemães são gatos, os franceses, sapos, os poloneses, porcos e os americanos são cachorros. O uso de antropomorfismo, uma técnica familiar em desenhos
animados e em tiras de
quadrinhos, foi uma tirada
irônica em relação às imagens propagandistas do nazismo, que mostravam os judeus como ratos e os poloneses
como porcos. E mesmo assim, são extremamente humanos.
Possui uma
narrativa fluida, cada capítulo começa com Art chegando ao recinto onde se
encontra seu pai, mostra um pouco da relação pai e filho antes de começar o
flashback. No flashback, mostra o holocausto de forma crua, sem dramatização
para nos emocionar, porque não precisa disso.
Mostrando desde como era o dia a dia dos judeus, a medida que a situação
ia piorando para os poloneses durante a guerra (As consequências sofridas por
este país após 1945 se refletem até hoje. Durante a Guerra morreram seis
milhões de poloneses, sendo 95% civis. Intelectuais, religiosos e nobres foram
transportados para os campos de concentração ou executados imediatamente. Muitos
poloneses que moravam no leste do país foram transferidos para outros
territórios. Varsóvia ficou totalmente despovoada. A Polônia foi o país que
mais sofreu com a Segunda Guerra Mundial, não só pela grande destruição do seu
território mas também pela elevada quantidade de perdas humanas.), em
que um judeu precisava de muita sorte para não ser morto, ou pior, ir para Auschwitz, mas que no final acabou indo para um dos piores
campos de concentração do nazismo. A narrativa nos mostra, que lá em Auschwitz, morrer era a melhor
opção, mas que por pior que esteja, sempre temos um motivo para viver, e que a “esperança
é a ultima que morre”. No entanto, como a madrasta de Art diz em uma conversa
sobre seu pai, “na verdade, parece que seu pai nunca saiu vivo de Auschwitz”.
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