domingo, 26 de maio de 2013

Crítica - Maus (Art Spiegelman)

Maus: A Survivor's Tale é um romance gráfico produzido pelo estadunidense Art Spiegelman que narra a luta de seu pai, um judeu polonês, para sobreviver ao Holocausto.
Os desenhos carecem de detalhes, muitas vezes parecendo croquis, e feito as pressas, no entanto os quadros são muito bem elaborados e composição bem feita. Pois embora os desenhos parecem mais com emaranhados de hachuras, alguns quadros são ricos em detalhes, muitas vezes utilizando de soluções simples, mas outras possuem maior aprofundamento de perspectiva. E mesmo com traços bem simples, é extremamente eficaz, pois poderia facilmente ficar confusa, mas é fácil de se entender. Na parte em que Art Spielgman retrata um antigo quadrinho feito por ele, podemos ver um melhor acabamento nos desenhos, tendo uns aspectos mais psicodélicos.


O primor da HQ é a história, mostrando como era a vida de um judeu durante a 2ª guerra. Vemos o quão baixo pode se rebaixar um ser humano quando está morrendo de fome, ou por medo. Determinadas partes são pesadas, não pelo desenho, mas pelo desenvolvimento da narrativa, como uma parte que fala como os nazistas tratavam das crianças que não paravam de chorar nos campos de concentração. Os personagens são muito bem trabalhados,  chega a dar um sentimento de tristeza, quando aparece a foto de um dos personagens no meio do livro, e você sabe o que vai acontecer com ele. Temos o pai de Art, o típico judeu avarento, que pega saquinhos de sal em restaurantes para economizar dinheiro, embora clichê, e demonstrar ser uma pessoa difícil de se conviver, é tratado de forma que criamos simpatia pelo personagem, e passamos a compreende-lo, a medida que o próprio Art começa a compreender melhor seu pai.
O livro se utiliza muito da metalinguagem, onde o autor conversa consigo mesmo sobre suas inseguranças ao escrever a Graphic Novel. Em determinado momento, ele mostra uma conversa com sua madrasta sobre qual animal utilizaria para retratar os franceses, e mais pra frente descobrimos qual ele utilizou. Em um outro, ele pensa em como retratar o seu pai, de forma não muito clichê. Mas o melhor é quando mostra sua reação diante das perguntas dos repórteres em relação a sua HQ, onde através do tratamento da imagem, conseguimos compreender os sentimentos do autor melhor do que qualquer palavra que pudesse vim a ser usada.

         Spiegelman retrata diferentes grupos étnicos através de várias espécies de animais: Os judeus são os ratos (em alemão: maus), os alemães são gatos, os franceses,  sapos, os poloneses,  porcos e os americanos são cachorros.  O uso de antropomorfismo, uma técnica familiar em desenhos animados e em tiras de quadrinhos, foi uma tirada irônica em relação às imagens propagandistas do nazismo, que mostravam os judeus como ratos e os poloneses como porcos. E mesmo assim, são extremamente humanos.
Possui uma narrativa fluida, cada capítulo começa com Art chegando ao recinto onde se encontra seu pai, mostra um pouco da relação pai e filho antes de começar o flashback. No flashback, mostra o holocausto de forma crua, sem dramatização para nos emocionar, porque não precisa disso.  Mostrando desde como era o dia a dia dos judeus, a medida que a situação ia piorando para os poloneses durante a guerra (As consequências sofridas por este país após 1945 se refletem até hoje. Durante a Guerra morreram seis milhões de poloneses, sendo 95% civis. Intelectuais, religiosos e nobres foram transportados para os campos de concentração ou executados imediatamente. Muitos poloneses que moravam no leste do país foram transferidos para outros territórios. Varsóvia ficou totalmente despovoada. A Polônia foi o país que mais sofreu com a Segunda Guerra Mundial, não só pela grande destruição do seu território mas também pela elevada quantidade de perdas humanas.), em que um judeu precisava de muita sorte para não ser morto, ou pior, ir para Auschwitzmas que no final acabou indo para um dos piores campos de concentração do nazismo. A narrativa nos mostra, que lá em Auschwitzmorrer era a melhor opção, mas que por pior que esteja, sempre temos um motivo para viver, e que a “esperança é a ultima que morre”. No entanto, como a madrasta de Art diz em uma conversa sobre seu pai, “na verdade, parece que seu pai nunca saiu vivo de Auschwitz”.

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