É notável a richa existente entre Mangá e Comics.
Mas, qual dos 2 é melhor?
Devemos começar com a seguinte pergunta: qual a
diferença entre o mangá e o comics?
A resposta: são a mesma coisa. Isso mesmo! São a
mesma coisa! Mas, possuem sim diferenças entre eles. Podemos fazer uma analogia
com culinária. Peguemos a cozinha italiana, a brasileira e a japonesa. A
culinária japonesa é conhecida por seus alimentos crús, a italiana com suas
massas e aqui no brasil, comemos arroz e feijão. Feijão, um alimento raro em
outros países. Mas é tudo culinária, serve para o mesmo fim, alimentação. Se
começassemos a chamar a comida japonesa de “Crús” e a italiana de “Massas”,
seria a mesma coisa do que acontece com mangá e comics. Claro, há diferenças
entre o mangá e o comics, assim como entre a comida japonesa e a comida
italiana. Diferenças que se dão devido a uma série de fatores sócio culturais.
Cada um sofreu influências de acordo com as
realidade culturais e sociais de seus países. Desde aspectos políticos (
Comics Code Authority) como tradicionais
(publicação em Preto e Branco ou leitura vertical ou horizontal).
O
nome "História em Quadrinhos", ficou conhecido pelas histórias serem contadas em
quadros, as famosas tirinhas. Mas, com o passar dos anos a disposição espacial
dos elementos gráficos nas páginas das histórias em quadrinhos saiu de uma
estruturação horizontal, como nas tirinhas de jornal, para uma disposição nas
quais os quadrinhos aparecem em tamanhos diferentes.
Cabe
lembrar que a inventividade dada pela disposição dos elementos visuais na composição
e uma página de histórias em quadrinhos não representa necessariamente uma
exclusividade do universo dos mangás. Artistas gráficos como Moebius, Will
Einer e Guido Crépax já trabalhavam com certa liberdade de exploração do espaço
da página em suas HQ rompendo portanto, com o paradigma de uma leitura
horizontalizada, herdadas das tirinhas de jornal.
Entre
os estilos existem muitas semelhanças a
começar pela influência que o comics teve sobre o mangá ao longo dos anos. Em 1930, Yomiuri Sunday Manga publicou uma tira
desenhada por Sako Shishido para o jornal Yomiuri Sunday Manga, que trazia a
estória das aventuras vivida por um jovem rapaz juntamente aos fora-da-lei. A história
claramente teve influência dos comics americanos da época. Como Shishido
estudou nos Estados Unidos, teve como base para seus desenhos as técnicas
americanas que tinham sido afastadas da predominante tradição japonesa.
O mangá mordeno surgiu a partir de Osamu Tezuka, onde sofria
influencias de desenhos da Disney, que originou os olhos grandes e expressivos,
hoje a marca registrada dos mangás. Atualmente o mangá influência muito
os comics, principalmente ao deixar um pouco o traço realista, adotando um
traço mais estilizado.
Entre as diferenças, o mangá é mais tradicional. Desde
a publicação em preto e branco, como a forma de publicação em uma revista com
muitos trabalhos e também o fato de se ler de trás para frente e leitura
vertical. É interessante que os países ocidentais publiquem suas histórias
neste formato, como forma de respeito à obra. Mas, produzir um material neste
formato? Manter o respeito e se influenciar, usufruindo de boas ideias e das qualidades
culturais de outra região é bom, desde que não se perca as suas raízes. A
publicação em preto e branco é em material barato, permite uma maior variação de
histórias e oportunidades mas, vale lembrar, que não é algo específico do
mangá. Essa é uma característica bem comum em qualquer fanzine.
Já os comics foram mais para o lado comercial. Um
papel de melhor qualidade, uso de cores (mas nem sempre, muitos comics da década
de 70 e 60 eram pretos e brancos também), com muitas imagens impactantes.
Durante a década de 90, os comics investiam em grandes batalhas com desenhos extremamente
bem trabalhados, sob perspectivas que deixavam as personagens anormais
anatomicamente falando, e capas muito bem construídas em diversos formatos. Como havia um pensamento mais de lucro que nas HQs em si, os enredos foram
decaindo cada vez mais e isso foi o responsável por uma crise que os comics
sofreram. Como se não bastasse a crise, os comics enfrentaram fortes críticas através do livro Seduction
of the Innocent ("Sedução dos Inocentes") do psiquiatra
alemão Fredric Wertham, afirmando
que os quadrinhos eram responsáveis pelo retardo mental das crianças e formavam delinquentes.
Grande responsável pela decadência dos quadrinhos americanos na década de 50.
No entanto por ser menos tradicional, permite a visão e
reinterpretações diferenciadas e por vezes geniais de autores diferenciados.
Como Dark Knight Returns (Batman, O Cavaleiro das Trevas) de Frank Miller, ou Watchmen
de Alam Moore, que não só reinventaram o gênero de quadrinhos super heróis,
como o quadrinhos como um todo.
O que nos leva a um outro ponto, os comics não tem fim
enquanto os mangás tem início meio e fim. De fato isso ocorre porém, há
vantagens e desvantagens em ambos os lados. No mangá a história é criada por um
único autor, mesmo que tenha ajudantes, são apenas ajudantes. Isso nivela a
qualidade da história, onde se é boa, costuma ser boa do início ao fim e se é
ruim, acaba rápido. É uma vantagem também do ponto de vista de um colecionador,
pois poderá se ter a coleção completa e mesmo se não conseguir acompanhar
durante o lançamento, não terá dificuldades em repor mais tarde. Podemos acompanhar
o desenvolvimento e crescimento das personagens no mangá. Isso também ocorre
nos comics, embora com um tempo cronologicamente estranho. E as desvantagens, é
que se o autor desiste do projeto, o mangá termina repentinamente e de forma forçada ou é lançado de vez em quando.
Nos comics, o direito das personagens e histórias estão
nas mãos da editora. Portanto sempre vai ter uma história nova com autores
variados. A vantagem é que pode ter certeza que todo mês tem um novo capitulo
da HQ de seu interesse, além de releituras interessantes, muitas vezes criando
obras primas, até mesmo com personagens que não possuem crédito como aconteceu o
Demolidor e o Monstro do Pântano. As histórias vem em arcos, onde mesmo uma
sendo continuação direta da outra, os capítulos não são interligados e
funcionam de formas independentes. As vezes não possui nenhuma ligação com a
cronologia oficial da personagem. A desvantagem é que assim como permita a criação
de grandes obras, saem materiais que nunca poderiam ter existido, com qualidade
muito baixa. Às vezes com pura intenção de vender. E do ponto de vista de um
colecionador, ao perder a história de um mês, até conseguir recuperar gera uma frustração, que o leva a dessistir de acompanhar tal série. Como os roteiristas
variam, o nível das histórias também varia. E quando uma história começa na
revista de uma personagem e termina na revista de outra, se você não coleciona a
outra personagem, acaba por não acompanhar o final da história que começou a
ler. Isso não torna o mangá menos comercial também, podemos ver muitas
histórias em que o enredo peca em detrimento da ação, como Naruto, One Piece,
Dragon Ball Z e etc. O que nem sempre inferioriza a qualidade do material.
Heróis mais humanos, e portanto mais próximos da
realidade, também não é uma exclusividade dos mangás. Stan Lee introduziu uma inovação
nos comics durante a decada de 60, que foi exatamente humanizar os heróis. Como
por exemplo, a criação do Homem Aranha, que era uma personagem, que estava na
escola, no período da puberdade, em que seus poderes eram uma analogia as
mudanças que o corpo sofre durante a adolescência, e ainda acompanhamos ele
crescendo, se formando, o primeiro amor, batalhando pra conseguir emprego e
pagar o aluguel, e ainda por cima, como se não bastasse encarar Dr Octopus ou
Venom, era atacado pela mídia, e inclusive onde trabalhava como fotógrafo free
lancer. E também Batman, em que, desde a própria personagem, como os vilões,
representam os instintos mais profundos e sombrios do ser humano, além de
grandes histórias em que a máfia e megacorporações são representadas.
Existe também uma globalização, em que muitos mangás são
“americanizados”, exibindo seres super poderosos, como o próprio DBZ, que em
determinado momento, as personagens possuem poder suficiente para destruir o
Universo. Ao compararmos Dragon Ball com Dragon Ball Z, percebemos como foi se
modificando, e se tornando cada vez menos caricatural. Note que no final de
DBZ, já na saga de Majin Buu, quase não se vê animais andando como humanos, que
eram comuns em DB, e o estilo mais cômico, foi cedendo espaço pra um mais
realista, em que trabalhavam mais a musculatura no desenho. E por mais que
digam que Dragon Ball é melhor, há de concordarem que Dragon Ball Z foi
mais marcante, inclusive com personagens mais marcantes como o Vegeta.
No entanto, ao se falar de realismo, deve-se analisar não
necessariamente o pé na realidade, mas a verossimilhança. Existem
personagens super poderosos que, acreditem ou não, conseguem ser mais realistas
e humanos do que personagens de filmes baseados em fatos reais.
De fato, o mangá possui uma maior variedade de
gêneros, incluindo histórias que atendem ao público feminino, que nos comics são raros. Mas, não devemos restringir comics à super heróis, ou
personagens de colante. Afinal, Maus, Genesis (Moebius), Sin
City, 300, Walking Dead também são comics (nesse último os
zumbis não usam colantes).
Então, respondendo a pergunta de qual é o melhor, a
resposta vai a partir do gosto pessoal, mas ambos possuem suas
particularidades, suas qualidade e seus defeitos.
Escrito por Felipe Utsch